Vivemos tempos difíceis. O projecto europeu aparenta estar em estado de desagregação. A esquerda foi praticamente varrida da governação europeia. Os povos europeus, quando chamados a escolher, têm dado a sua confiança a governos conservadores que não raro têm optado por soluções populistas. Ninguém ignora a gravidade da crise europeia e internacional, que nos afectou de forma severa. Mas os problemas do país e da Europa não se esgotam na questão financeira. A consolidação orçamental, que é imprescindível, de pouco valerá se não for acompanhada de um crescimento sólido e correcto da economia, assente na valorização das pessoas. Novos desafios se apresentam em todos os domínios e cumpre ao PS saber compreendê-los e apresentar soluções. A resposta do PS não pode ser desistir, mas transformar, reformar e inovar, ao mesmo tempo que protege as estruturas basilares do nosso Estado social.
É neste contexto exigente que sou candidato a Secretário-Geral do Partido Socialista, ao qual pertenço há mais de vinte anos. A minha candidatura representa em simultâneo uma candidatura de mudança e de continuidade: continuidade em relação à história do PS, ao seu património político, ético e humano, o qual assumo integralmente, e de mudança porque temos de saber construir os caminhos do futuro, que implicarão rupturas.
A obrigação do PS é constituir-se ao longo dos próximos tempos como alternativa de esquerda credível, responsável, sólida e consistente. Para que isso aconteça, temos de iniciar um novo diálogo com os portugueses e reaprender a ouvir a sociedade, que se encontra em mutação. É esta alternativa que pretendo construir, mas temos que reagir à tentação das respostas precipitadas, à ditadura do instantâneo. Construir um projecto de futuro para Portugal exige tempo, imaginação e consistência: tempo é estudo, é reflexão, é diálogo, capacidade de ouvir as pessoas e de falar com elas, estar atento aos contributos dos sectores mais dinâmicos, compreender as novas desigualdades e as novas manifestações de pobreza, as novas formas de marginalidade e exclusão, compreender as razões das angústias dos nossos jovens quanto ao futuro, abraçar novas causas. Temos de transferir as preocupações da sociedade portuguesa para o seio do debate político, com um discurso renovado.
Uma alternativa não se pode hoje construir com base em slogans vazios. Uma verdadeira oposição de esquerda democrática não pode prescindir da inteligência, da cultura e da exigência. Procurarei rodear-me dos melhores, dos mais competentes, dos que têm soluções devidamente estudadas, fundamentadas e debatidas.
A minha primeira prioridade será relançar o debate no interior do PS, que contribuirá para enriquecer e reforçar as energias do PS. Temos o dever de abrir de novo o partido à sociedade. Um partido político não pode viver numa realidade fechada e autosustentada.
No PS não há militantes mais importantes que outros: o PS é um partido democrático, não é um partido em que alguns cultivam os seus pequenos feudos eleitorais. Esta é a candidatura de um homem livre, num partido livre, onde todos fazem a sua opção de forma consciente.
Não prometo aos militantes socialistas um caminho fácil. Os portugueses esperam do PS firmeza, responsabilidade e audácia. Faremos os pactos de regime que o interesse nacional venha a reclamar, e manteremos um diálogo institucional, sério e adequado com a nova maioria de direita que irá governar Portugal nos próximos tempos. Seremos uma oposição clara e frontal. Não deixaremos que sejam outros a determinar a nossa actuação política, de modo a que os portugueses possam perceber que há um projecto distinto para o nosso país.
Somos um grande partido, um partido portador de confiança e de esperança no futuro de Portugal, e temos por isso um grande futuro à nossa frente.
Estive quase sempre, nos últimos anos, na primeira linha dos combates do PS e orgulho-me de ter defendido os valores e os ideais do nosso partido. Desejo ver o PS unido em torno das melhores causas e dos melhores propósitos no âmbito de uma solução de esquerda democrática para Portugal. Espero poder contar com a sua confiança para ser o próximo Secretário-Geral do Partido Socialista.
Francisco Assis
Fonte: http://www.franciscoassis.net
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Francisco Assis: Tempo, imaginação e consistência: três palavras para um projecto de futuro para Portugal
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