domingo, 15 de junho de 2008

A crise da economia e a estratégia do governo PS

A crise actual da economia internacional e portuguesa e a estratégia que o actual e futuro governos PS deverão assumir é o tema do último artigo de opinião de Manuel Maria Carrilho, publicado no Diário de Notícias, de 14 de Junho.

Do artigo destaca-se:

«(…) Agora, é o momento de reconhecer que o quadro de medidas que o Governo preparou e implementou nestes difíceis três anos era viável na situação existente até ao Verão de 2007. Mas é também a altura de reconhecer que essa viabilidade foi posta em causa pelas crises que entretanto se declararam e pela aguda percepção das suas consequências, que reactivaram os fantasmas de um país "submergente", condenado a um desesperante empobrecimento.

Como diz Teodora Cardoso, chega de miopia: é a este desafio que é preciso responder. E ninguém melhor do que o Governo está em situação de o fazer, dando-lhe dimensão e motivação nacionais. É desse golpe de asa que na verdade tudo depende, o que exige inconformismo com o mundo, proximidade com as pessoas e capacidade de encontrar soluções com competência e humildade.

É preciso ter mundo, ver longe e ouvir perto: o momentum será, nos próximos tempos, de quem compreender isto. E de quem, depois de o compreender, seja capaz de avançar na linha das sua consequências. É este, a meu ver, o caminho que nos poupará ao dilema entorpecedor que comprometerá os resultados alcançados e tornará ainda mais problemático o futuro do País. E são cinco os eixos fundamentais dessa via:

1) Assumir responsável e pedagogicamente os dados da actual crise, assim como a mudança de paradigma civilizacional - na energia, no crédito, no consumo, nos transportes, no turismo, etc. - que ela impõe com urgência;

2) Colocar Portugal na linha da frente do combate pela elaboração de um "plano europeu" capaz de responder à crise, e por uma União Europeia que avance no governo económico, na harmonização fiscal e na dinamização de um espaço público efectivamente comum;

3) Fazer do combate à pobreza, da luta contra as desigualdades e do reforço da classe média uma autêntica prioridade política na acção do Executivo;

4) Rever com realismo, à luz dos condicionalismos que se conhecem e dos que se antecipam, as chamadas "grandes obras", sejam elas rodoviárias ou ferroviárias, aeroportuárias ou comemorativas. Reorientar todo o investimento possível para a qualificação do território, das instituições e, sobretudo, das pessoas;

5) Organizar um "comité de peritos", com personalidades nacionais e internacionais, que acompanhe o ano 2008/2009, preparando desde já o programa a apresentar ao País para o período 2009/2013, tendo como horizonte a próxima década. Este programa deveria ser debatido de forma regular e aberta, nuns renovados Estados Gerais que deveriam ser convocados a partir do próximo Outono.

Os próximos tempos serão, sem dúvida, extraordinariamente difíceis e exigentes. Mas algo me diz, nesta época de palpites, que vai ser por aqui, com este tipo de inspiração, que se vai ganhar em 2009.»

Ler artigo completo em: <
http://dn.sapo.pt/2008/06/14/opiniao/e_agora.html>