sábado, 9 de julho de 2011

" Há mais vida para lá do memorando", António josé Seguro em entrevita ao Semanário " Expresso"



" Há mais vida para lá do memorando", António josé Seguro em entrevita ao Semanário " Expresso"

É o favorito claro nas eleições internas. Consigo a líder, o Governo pode contar com o PS para as medidas da troika. Quanto ao resto a vigilância será total.

- Diz que "o PS tem de mudar, e muito". É um corte radical com o passado?

- Não. O PS tem de mudar, e muito, nas suas práticas, nos métodos de trabalho, na forma de organização e de comunicação — quero dar mais voz aos militantes e abrir o partido à sociedade. E tem de mudar ao nível da proposta política: inflexível nos valores mas com resposta aos novos problemas.

- Os métodos não funcionaram ou são os tempos que exigem novos métodos?

- As duas coisas. Ao longo das últimas décadas, os órgãos nacionais muitas vezes ratificaram mais as decisões do que as debateram. O PS, no essencial, continua com a estrutura do pós-25 de abril.

- Alegre desafia o próximo líder a acabar com o culto do chefe. Foi a isso que se assistiu nos últimos anos?

- Não estou com os olhos postos no passado. Quero que o PS seja um partido moderno, à altura dos novos tempos, que valorize os militantes pois só assim é que consegue atrair novos contributos. Gosto muito de ouvir antes de decidir, isso enriquece a decisão. Para sermos unidos na ação temos de ser plurais no debate.

- Diz que para os portugueses voltarem a acreditar nos políticos, a primeira condição é "ser frontal e transparente com as pessoas". Foi um dos erros do governo socialista?

- Nenhuma governação do PS está isenta desses erros. Devemos aprender com eles. Mas o passado não o podemos corrigir. Mais do que estar à procura de diferenças, quero afirmar-me como sou. Não me interessa onde as pessoas estiveram no dia 4 de junho.

- Como é que um projeto de mudança recolhe apoio tão maciço do aparelho?

- Não gosto dessa palavra. Em cada estrutura do PS há homens e mulheres que dão o seu melhor, gente muito capaz e de muita inteligência. Esta é uma candidatura que não nasceu num corredor do poder em Lisboa, negociada entre meia dúzia de pessoas. Nasceu por vontade própria, das bases para o topo. Não quero ser um líder de facão.

- Ao "falhanço da globalização económica de inspiração liberal", corresponde a perda de poder dos socialistas europeus. Como se resolve o paradoxo?

- É uma discussão que tem de ser feita no interior da família socialista europeia. E deve ser em simultâneo com o debate que quero introduzir no PS. A UE está dominada por uma visão muito liberal e conservadora. É um engano e a Europa vai definhar. A Europa tem instrumentos de política monetária e cambial, mas não tem verdadeiros instrumentos de política económica. Não tem sentido que seja Merkel a falar e a Europa a obedecer. A Europa precisa de instituições e lideranças capazes de avivar o projeto de solidariedade que foi fundador da UE.

- Mas como, se, a cada dia, perdem influência? A seguir prevê-se que sejam o PSOE e o PASOK a perder eleições...

- A receita da austeridade como solução para resolver o problema da consolidação das contas públicas e nenhum estímulo ao crescimento económico, vai ter mau resultado! Precisamos de a contrariar e isso só com um forte investimento nos sectores produtivos que acrescentem crescimento económico.

- Em Portugal as propostas liberais acabaram sufragadas pelos eleitores.

- Não estou a dizer o contrário. O que quero é que em 2015 os portugueses tenham duas propostas por onde escolher. Temos de levar esperança e confiança às pessoas e não vejo, a começar no programa do Governo, que esta maioria (de matriz liberal e conservadora) seja a resposta para os problemas.

- A margem é estreitíssima. O PS assinou o compromisso com a troika.

- Queremos ser uma oposição responsável, assumindo os compromissos, designadamente os do memorando, mas há caminhos que fazem a diferença. E tenho uma grande disponibilidade para, em questões estruturantes, podermos convergir. Exemplo: o combate à corrupção. Assim como a transparência na gestão dos dinheiros públicos.

- Assis fala explicitamente de alianças autárquicas à esquerda. O senhor não.

- O diálogo interpartidário deve existir, à esquerda e à direita. Nunca tivemos nenhum complexo dessa natureza. Mas neste momento, mais importante é a afirmação da autonomia do PS.

- A força da autonomia também lhe virá do relacionamento com o Governo. Voltamos à quadratura do círculo...

- Sim, mas gostava de esclarecer uma coisa: nós não governamos, nem somos reféns da política do Governo. Uma coisa é o memorando, outra o espaço político de um partido de oposição. Há mais vida para lá do memorando da troika.

- As pessoas não têm certeza disso.

- Eu percebo. As medidas são tão fortes, e adensadas com medidas que não estavam no memorando, que é natural que as pessoas se questionem. Mas cabe à oposição encontrar espaços que permitam marcar a diferença. Era o que mais faltava que não tivesse possibilidade de definir a estratégia eleitoral do PS.

- Criou-se a ideia de que entre si e Passos será difícil estabelecer a diferença.

- Os percursos são diferentes. É verdade que fomos líderes das juventudes, há essa coincidência, mas é a única.

- Quando Passos foi eleito no PSD você interrogou-se se à mudança geracional iria corresponder a alteração da forma de fazer política. Já tem resposta?

- O exemplo dá-me uma resposta negativa. Na campanha, Passos prometeu que não aumentaria os impostos. Foi a primeira coisa que fez no Governo. Prosseguiu a linha política dos governos anteriores. Eu faço política de forma diferente. É necessário honrar as promessas eleitorais.

- Há contexto para retomar a revisão constitucional? O PS reapresenta o projeto que entregou no início deste ano?

- Essa deve ser a base. O PSD não conta é com os nossos votos para o projeto do verão passado, nomeadamente nas áreas laboral e social.

- É contra as eleições primárias para escolha de candidatos abertas a não militantes que Assis propõe. Porquê?

- Sou favorável à realização de primárias, mas entre os militantes. Caso contrário não haveria nenhuma razão para as pessoas aderirem ao PS! Isso mataria o debate político no interior do PS.

- Se for eleito, qual o papel que destina a Francisco Assis?

- Neste momento o importante é dar razões aos militantes para me elegerem. Depois das eleições naturalmente que Francisco Assis tem um lugar por direito próprio no PS. Não dispensarei o contributo de nenhum militante, em particular o dele.

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